21 de Novembro - Dia Nacional da Homeopatia no Brasil
Homeopatia é considerada uma filosofia (lato sensu) holística, vitalística, pelo fato de interpretar doenças e enfermidades como causadas pelo desequilíbrio ou distúrbio de uma hipotética33 energia vital ou força vital no organismo de quem as apresenta. Desse modo, ela vê tais distúrbios como manifestações em sintomas únicos e bem definidos. Sustenta que a força vital tem o poder de se adaptar a causas internas ou externas. É a "lei da suscetibilidade" homeopática, sob a qual um estado mental negativo pode atrair entidades hipotéticas chamadas "miasmas", as quais invadem o organismo e produzem os sintomas das doenças.34 Hahnemann, contudo, rejeitou a ideia de ser a doença "algo separado, uma entidade invasora" e insistiu em que ela é parte de um "todo vital".35
Hipócrates
Os defensores da homeopatia destacam o fato de que alguns princípios gerais da homeopatia já teriam sido enunciados por Hipócrates há cerca de 2500 anos:
- Observar. Para Hipócrates, grande parte da arte médica consiste na capacidade de observação do médico. A observação deve ser feita sem nenhum tipo de preconceito ou julgamento, estando o prático aberto aos relatos explícitos e implícitos do paciente.
- Estudar o doente, não a doença. Este princípio, proposto no Ocidente pela primeira vez no tempo de Hipócrates, assentou as bases da holística, estabelecendo que na compreensão do processo saúde/enfermidade não se divide a pessoa em sistemas ou órgãos, devendo-se avaliar a totalidade sintética do indivíduo. Este ponto é essencial no entendimento das históricas divergências entre as escolas de Cós (cujo expoente principal é o próprio Hipócrates) e de Cnido. Esta última pregava a especialização, a impessoalidade, o organicismo e a classificação das doenças.
- Avaliar honestamente. Dá-se importância à leitura prognóstica dos problemas da pessoa.
- Ajudar a natureza. A função precípua do médico é auxiliar as forças naturais do corpo para conseguir a harmonia, isto é, a saúde.
Esses princípios guardam semelhança com as conclusões de Samuel Hahnemann no século XVIII, como se expõe a seguir.
Hipócrates foi também o primeiro a descrever as duas maneiras principais de abordar a terapêutica:
- Similia similibus curantur: "Semelhantes são curados por semelhantes". Base terapêutica da homeopatia.
- Contraria contrariis curantur. "Contrários são curados por contrários". Princípio seguido por Galeno que estabeleceu também as bases da alopatia.
A visão integradora de Hipócrates permeia sua obra, cujos textos mais conhecidos são Aforismos e Juramento. A saúde, para ele, é resultado da harmonia entre os quatro humores que ele acreditava estarem presentes no corpo e da interação da pessoa com o meio. Higiene, dieta,exercícios físicos, clima e outras circunstâncias são levadas em consideração na avaliação da saúde. O adoecimento obedeceria, de acordo com o pensamento de Hipócrates, a três estágios facilmente reconhecíveis por um observador atento:
- (1º) degeneração (desequilíbrio) dos humores;
- (2º) cocção; e
- (3º) crise.
Não se dava importância à classificação das doenças, levando-se muito mais em conta a pessoa e seu contexto. Na terapêutica era parco o uso de medicamentos, interferindo-se somente nos momentos considerados necessários, quando a natureza o indicasse. Ficou muito conhecido no seu tempo por sua honestidade científica e na relação com os pacientes e seus familiares, insistindo na necessidade de se trabalhar com a verdade e de se fazer a leitura do prognóstico do estado de saúde. Estabeleceu as bases da ética nas relações entre médicos, entre médico e discípulos e entre médicos e pacientes.
Todavia, embora o pensamento de Hipócratres seja de enorme importância para a história da medicina e formação da ética médica, considera-se ter pouca importância epistemológica, a começar pelo fato de que três dos quatro humores por ele descritos e nos quais fundamentava o seu pensar sequer existem. Ele acreditava que a saúde era resultado do equilíbrio entre quatro supostos líquidos diferentes secretados pelo corpo: o sangue (único dos quatro que realmente existe), a fleuma, a bile amarela e a bile negra. Acreditava ainda que a proporção desses líquidos era capaz de definir as variações de caráter entre os humanos.
De Hipócrates a Paracelso[editar]
Os séculos seguintes apresentaram preponderância crescente das crenças de Cnido e das práticas de Galeno, chegando ao dogmatismo. O establishment da Antigüidade e, posteriormente, da Idade Média, não permitia qualquer tipo de oposição às ideias galênicas que reinaram quase absolutas por quinze séculos. Galeno ficou conhecido por seus preparados farmacêuticos que incluíam várias substâncias em cada um deles. Sua teriaga, uma de tantas misturas preparadas, chegou a ter mais de setenta ingredientes em sua composição até a época de sua morte. Na Idade Média o preparado já continha mais de cem substâncias, sendo usado como antídoto universal. Até o final do Século XIX a teriaga estava registrada nas farmacopéias oficiais de vários países europeus.
Paracelso[editar]
Um dos maiores críticos de Galeno, e, não casualmente, devoto de Hipócrates, foi Paracelso (1491 – 1541). Dotado de um espírito questionador, iconoclasta e revolucionário, esse médico e alquimista, nascido em Zurique, abalou as estruturas acadêmicas de sua época, questionando os clássicos e afirmando a necessidade de se realizarem experiências e observações próprias para o conhecimento da ciência. Com efeito, a medicina paracelsista é um retorno à filosofia da natureza, ao holismo. Ele vê a pessoa submetida às mesmas leis e princípios que governam o universo; em suas palavras: "Assim como é em cima, é em baixo". Para ele, a saúde é resultante da harmonia entre o homem (microcosmo) e o Universo (macrocosmo). Paracelso aceita o princípio da cura pelo semelhante e prescreve: "Scorpio escorpionem curat".
Samuel Hahnemann[editar]
No Século XVIII, Samuel Hahnemann (1755-1843) nasce na Alemanha e inicia sua prática médica em 1779. Naquela época, sangrias, eméticos e purgantes eram receitados sem nenhum resguardo. Os médicos julgavam-se autoridades máximas, acima da natureza, e não duvidavam de seus métodos mesmo diante de desastrosas evidências do dano que causavam. Hahnemann frustra-se profundamente com a prática médica e decide abandoná-la em 1789. Um de seus escritos reflete a angústia e o desânimo que pousaram sobre ele naquela época: "converter-me em assassino de meus irmãos era para mim um pensamento tão terrível que renunciei à prática para não me expor mais a continuar prejudicando". Essa postura mostra sintonia com a máxima hipocrática: "Primo nil nocere", ou seja, primeiramente não prejudicar.
Era um poliglota. Consta que conhecia grego, latim, hebraico, árabe, caldeu, alemão, inglês, francês, italiano, espanhol, entre outras línguas. O conhecimento desses idiomas é decisivo no futuro de Hahnemann, pois, havendo abandonado a prática médica, começa a sobreviver realizando trabalhos de tradução. Traduz, sobretudo, obras médicas e científicas, retomando estudos de antigos mestres como Hipócrates, Paracelso, Jan Baptista van Helmont, Thomas Sydenham, Boerhaave, Stahl eAlbrecht von Haller.
A história registra sua personalidade prodigiosa, dotada de capacidade de observação e de senso crítico. Foi quando trabalhava na tradução da Materia Medica de Cullen, em 1790, que um fato descrito por aquele autor chamou sua atenção. ACinchona officinalis (quinina ou simplesmente quina) era usada na Europa, proveniente do Peru, para o tratamento do paludismo. Segundo explicações do autor do livro, a Cinchona atuaria fortalecendo o estômago e produzindo uma substância contrária à febre. Movido por curiosidade e intuição científicas, Hahnemann decide provar, nele mesmo, o medicamento. Observou em si o aparecimento de sintomas semelhantes ao das crises febris da malária (esfriamento das extremidades, rubor facial, sonolência, prostração, pulsações na cabeça) ao ingerir a quina e seu desaparecimento ao cessar o uso. Repetiu várias vezes o experimento com a quinina e depois continuou fazendo provas com beladona, mercúrio, digital, ópio, arsênico e outros medicamentos. Inspirado pela obra de von Haller, que preconizava o estudo do medicamento na pessoa saudável, antes de ser ministrada ao doente, inclui seus parentes nas experiências, observa e anota pormenorizadamente os resultados.
Depois de seis anos de pesquisas intensas, Hahnemann publica o "Ensaio sobre um novo princípio para descobrir as virtudes curativas das substâncias medicamentosas, seguido de alguns comentários a respeito dos princípios aceitos na época atual". 1796 entra para a História da medicina como o ano de sistematização dos conhecimentos homeopáticos (para alguns o "nascimento da homeopatia"). Como visto acima, os princípios já haviam sido enunciados por outros médicos anteriormente, mas é Hahnemann quem dá um corpo único, coerente, sintético, com fundamentos nitidamente compreensíveis à homeopatia. É curioso mencionar que foi ele quem cunhou os termos "homeopatia" (à qual também se referia como Arte de Curar) e "alopatia" (Prática abusiva, agressiva e pouco eficaz).
A partir de 1801 Hahnemann começa a usar "medicamentos dinamizados" (técnica própria da homeopatia que visa ao desenvolvimento da força medicamentosa latente na substância e que consiste em submeter a droga a diluições e sucussões sucessivas) e observa que isso dá mais potência ao medicamento. Em 1810 publica sua obra fundamental, "Organon da Medicina Racional", mais tarde, "Organon da Arte de Curar". Em vida, chega a publicar cinco edições do Organon. A sexta e definitiva edição vai para o prelo post mortem, em 1921.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Homeopatia
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